terça-feira, 1 de março de 2016

“Spotlight”, a Igreja aprecia a mensagem de denúncia



O filme “Spotlight”, vencedor do Oscar de Melhor Filme, que aborda a questão da pedofilia na Igreja, foi definido pelo jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, “não como um filme anti-católico”, mas positivo, porque tem confiança de que o Papa Francisco derrotará este flagelo.
Assim indicou a editorialista do jornal da Santa Sé, Lucetta Scaraffia, em um artigo na edição de hoje, comentando o Oscar de Hollywood e o pedido feito ao Papa Francisco por Michael Sugar, produtor do filme. Ao receber o prêmio, Sugar disse: “Papa Francisco, é hora de proteger as crianças e restaurar a nossa fé”.
Entre outras vozes destacou-se a do bispo de Malta, Charles Scicluna, que “convidou a todos, também os bispos, a verem este filme”. Enquanto que da Comissão Pontifícia de proteção aos menores chegou o “apreço por este filme, e claramente pela mensagem que transmite”.
“Spotlight” fala do que aconteceu em 2002 no jornal The Boston Globe ao revelar os casos de pederastia na Igreja católica, e o encobrimento sistemático dos abusos sexuais cometidos por quase uma centena de padres nos Estados Unidos. O fato de que as acusações se tornaram públicas levou muitas pessoas a falar permitindo assim que se conhecesse a magnitude do fenômeno e a entender que não se tratava somente de casos isolados.
“O fato de que na cerimônia dos Oscar tenha-se feito um chamamento ao papa Francisco para que combata este flagelo deve ser visto como um sinal positivo”, destacou a editorialista do L’Osservatore Romano, embora reconhecendo que “dentro da Igreja há muitas pessoas que estão mais preocupadas pela imagem da instituição do que pela gravidade do ato”.
Em vez disso, acrescentou, “nada pode justificar a grave falta cometida pela pessoa que representa a Deus e que usa a sua autoridade para abusar de um inocente. Tudo isso está bem contado no filme”. Motivos pelos quais não é possível dizer que se trate “de um filme anti-católico”, disse.
“Há confiança em um Papa que continua a limpeza iniciada por seu antecessor desde que era cardeal”, disse Scaraffia. Embora também lamentou que não se mencione no filme “a longa e difícil luta” realizada pelo cardeal Joseph Ratzinger quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e, como Bento XVI.
O Papa Francisco exigiu e colocou em funcionamento medidas para que este flagelo seja erradicado da Igreja. No vôo de volta do México, o Santo Padre reiterou: “A pedofilia é uma monstruosidade porque um sacerdote foi consagrado para levar uma criança a Deus e depois a come em um sacrifício diabólico. A destrói”. E disse que “um bispo que muda um sacerdote de paróquia quando detecta uma pederastia é um inconsciente e o melhor que pode fazer é apresentar a renúncia”.
O sacerdote jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a proteção dos menores, disse à Rádio Vaticano que a mensagem é uma chamada “para que a Igreja faça o que desde 2002 começou a fazer. Porque desde o final dos anos 90 o cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, destacou que a Igreja não podeia mais tolerar estes abusos, nem os bispos cobri-los”. E depois como Bento XVI “deu grandes passos para tornar a Igreja uma instituição transparente comprometida na luta contra os abusos”. E em seguida o Papa Francisco instituiu a Pontifícia Comissão para a guarda dos menores.
O padre Zollner também lembrou que o bispo de Malta, Charles Scicluna, na primeira fila na perseguição destes crimes, alguns dias atrás, “convidou a todos, também os bispos, para ver este filme”. Há, portanto, “muito apreço por este filme e claramente pela mensagem que transmite”.

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