Não
somente os leigos, mas até mesmo alguns sacerdotes parecem desconhecer o
Magistério da Igreja ou não acreditam nele, infelizmente
Não poucas vezes o Papa Francisco citou a expressão
Colonização Ideológica em suas homilias e catequese sobre as famílias. Um termo
que pode parecer filosófico demais e muitas pessoas podem não o entender bem ou
não o identificar na rotina de nossa sociedade. Para outros, não passa de
“teoria da conspiração”, pois esse papo – defendem – é simplesmente a evolução
social, retrato das realidades de nosso tempo.
Mas não podemos, principalmente os católicos,
fechar os olhos a este grande perigo. Estamos sendo bombardeados com ideologias
que vão se cristalizando em nossos costumes e, pior ainda, em nossa compreensão
de mundo. Estamos sendo colonizados ideologicamente, assim como um país se
apodera de um território, o domina e cria ali uma colônia, impondo seus
princípios e modos de agir. As famílias são as grandes vítimas disso, pois as
ideologias mais fortes que circulam em nosso meio há anos afetam diretamente a
estrutura familiar. E tais ideologias são abraçadas pelos meios de comunicação
dominados pelos interesses econômicos.
O Papa Francisco denunciou este grande risco mais
uma vez, no último dia 15 de Fevereiro em um encontro com as Famílias no
México. Ele afirmou que “terminamos sendo colônias de ideologias
destruidoras da família, do núcleo da família que é a base de toda a sociedade
saudável”. Palavras, ou melhor, exortações lindas, exaltando o valor de se
doar pela família, o valor de um rosto cansado pela entrega à família, de um
rosto enrugado depois das lutas de todos os dias. Falou, mais uma vez, da troca
de se ter filhos pelo conforto e luxo. O pontífice vem insistindo nisso
periodicamente, pois aí estão alguns exemplos de ideologias que nos colonizam.
E não precisou muito tempo para a tal colonização
ideológica colocar o Papa à prova mais uma vez. Exatos três dias após seu
encontro com as famílias, em uma entrevista coletiva no voo de volta à Roma,
jornalistas colocaram o tema da contracepção diante da epidemia de Zika e
conseguiram arrancar um trecho da resposta de Francisco para semear, no mundo
inteiro, que ele estava permitindo o uso de contraceptivos. Os católicos que
conhecem sua fé entenderam a resposta. Aliás, o Papa afirmou que a contracepção
artificial é um mal e em nada foi contrário ao Catecismo da Igreja Católica que
diz ser “intrinsecamente má qualquer ação que, quer em previsão do ato
conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas
consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a
procriação”(CIC2370).
Mas o que mais me preocupa é ver o sorriso no rosto
de católicos, entre eles os “muito” praticantes, catequistas até líderes, com a
possibilidade que abriria a interpretação errada da entrevista. Me preocupa
pensar que alguns podem se achar sempre em caso de exceção, julgando que as
orientações do Magistério da Igreja são demasiadas pesadas para eles. Estes
ainda vivem reclamando do que é ou não permitido, não descobriram a beleza de
se desafiar com a vida que o Evangelho nos convida a viver. Frutos da
colonização ideológica, querem que a Igreja mude para atendê-los em tudo, ao
invés de se esforçarem para caminharem com a ela. Vivem outra Igreja. A
proliferação de igrejas não ocorre unicamente em cada porta que se abre para um
culto com alguém que se intitula um pastor, mas também dentro daqueles que
vivem no dia a dia as suas próprias igrejas, a seus modos, ignorando aquilo que
lhes desafia. Afinal, estar com a Igreja é estar a caminho, e um caminho cheio
de desafios.
Não pense que você está imune à isto. Estamos
mais influenciados do que percebemos. Somos tentados a concordar (se não é que
já concordamos) que contracepção artificial é algo normal e não é pecado, que
devemos ter poucos filhos para que eles tenham conforto (e tenham tudo o que
não tivemos!), que é impossível ter muitos filhos no mundo de hoje, que as
meninas devem garantir sua posição no mercado de trabalho para não dependerem
de seus maridos, que se deve adiar ao máximo o casamento para conquistar bens e
“curtir” a vida antes, que ter relações sexuais pré-matrimoniais é algo normal,
que coabitar antes do Matrimônio faz parte do processo, que não é bem assim até
que a morte nos separe e teremos direito a uma nova experiência etc.
Não somente os leigos, mas até mesmo alguns
sacerdotes parecem desconhecer o Magistério da Igreja ou não acreditam nele,
infelizmente. Já me deparei com padres que garantem que métodos naturais de
regulação da natalidade não funcionam. Outros que incentivam casais a
coabitarem e fazerem experiência antes de se casarem. E sobre ter uma família
numerosa? Escutar comentários e sugestões diversas, das mais absurdas às irônicas,
de pessoas que tomam conhecimento que temos sete filhos, se tornou rotina. Mas,
pasmem, também já as escutei de sacerdotes.
A colonização ideológica não poupa ninguém. É uma
luta diária em que somente a vida de oração e o estudo de nossa fé pode nos fortalecer.
Ter o Catecismo da Igreja Católica como sua principal fonte de consulta para as
dúvidas de fé é o primeiro passo. Em seguida, dedicar tempo ao estudo, aos
documentos da Igreja, aos grupos de estudo, à leitura formativa e ter muito
interesse por tudo o que a Igreja nos oferece.
Você tem o livro do Catecismo? Tem costume de
lê-lo? Qual e quando leu texto documento oficial da Igreja? Pede ao Espírito
Santo o correto entendimento daquilo que lê? É tempo de buscar vacinas. A da
Zika, que afeta nosso corpo, ainda não foi descoberta. Mas também devemos usar
sem moderação a vacina contra a Colonização Ideológica que destrói nossa alma e
nossa família.
Paz e bem!
—
André Parreira (alparreira@gmail.com), da
diocese de São João del-Rei-MG, é autor de livros sobre a preparação para
o Matrimônio e responsável no Brasil pelo DVD “Sim, Aceito!”, lançado
em parceria com a Pastoral Familiar da CNBB. Professor, empresário, casado e
pai de 7 filhos, colabora na formação de jovens e casais e é colunista
colaborador de
ZENIT.
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