Durante
a audiência geral, o Papa Francisco explica porque não pode haver justiça sem
misericórdia
A
catequese do Papa Francisco sobre o Ano Santo tocou um aspecto fundamental,
talvez o mais discutido: Qual é a relação entre a justiça e a misericórdia?
O
Papa abriu a Audiência Geral de hoje, lembrando que apenas aparentemente estas
duas realidades se “contradizem”, tanto que “a Sagrada Escritura nos apresenta
Deus como misericórdia infinita, mas também como justiça perfeita”. Em outras
palavras, “é justamente a misericórdia de Deus que leva a cumprimento a
verdadeira justiça”.
A
realidade terrena, em qualquer lugar, se caracteriza por uma “justiça
retributiva”, que protege se considere “vítima de uma injustiça” e se dirige ao
tribunal para que seja feita justiça.
De
acordo com este critério, o infrator recebe uma pena “segundo o princípio de
que a cada um deve ser dado aquilo que lhe é devido. Como diz o livro dos
Provérbios: “Quem pratica a justiça é destinado à vida, mas quem persegue o mal
é destinado à morte” (11, 19). O Evangelho também menciona a história da viúva
que ia repetidamente ao juiz e lhe pedia: ‘Faz-me justiça contra o meu
adversário (cf. Lc 18,1-8).
“Este
caminho – continuou o Papa – ainda não leva à verdadeira justiça, porque, na
realidade, não vence o mal, mas simplesmente contém seu avanço. É, em vez
disso, respondendo a ele com o bem que o mal pode ser realmente vencido”.
A
Bíblia indica o “caminho mestre”, no qual a vítima evita recorrer ao tribunal e
se dirige diretamente ao culpado “para convidá-lo à conversão, ajudando-o a
entender que ele está fazendo mal, apelando a sua consciência”, explicou
Bergoglio. Assim, reconhecido o próprio erro. Ele pode se abrir ao perdão, que
lhe é oferecido”.
Francisco
acrescentou que é a mesma dinâmica que caracteriza as relações familiares,
“onde o ofendido ama o culpado e deseja salvar a relação que o liga ao outro”.
O
caminho do perdão – reconhece o Papa – “ é um caminho difícil”, porque quem
sofreu o erro precisa estar “pronto a perdoar e deseje a salvação e o bem de
quem o ofendeu”, porque, se o culpado “reconhece o mal feito e deixa de
fazê-lo, eis que não há mais o mal e aquele que era injusto se torna justo,
porque perdoado e ajudado a reencontrar o caminho do bem”.
O
Papa Francisco explicou que Deus age assim “nos confrontos de nós pecadores”.
Ele “continuamente oferece o seu perdão e nos ajuda a acolhê-lo e a tomar
consciência do nosso mal para poder nos libertar. De fato, Deus “não quer a
nossa condenação, mas a nossa salvação”.
Alguém
poderia levantar a seguinte objeção: “mas, padre, a condenação de Pilatos foi
merecida?”. A verdade é que “Deus queria salvar Pilatos e também Judas”. “Ele,
o Senhor da misericórdia, quer salvar todos! O problema é deixar que Ele entre
nos corações”, afirmou Francisco.
No
Antigo Testamento, no entanto, ouvimos o apelo à conversão que Deus diz através
de Ezequiel: “Terei eu prazer com a morte do malvado? (…) mas antes com a sua
conversão, de modo que tenha vida” (Ezequiel 18-23).
Deus
quer que seus filhos “vivam no bem e na justiça, e portanto, vivam em plenitude
e sejam felizes”. O coração de Pai “vai além do nosso pequeno conceito de
justiça para nos abrir aos horizontes ilimitados da sua misericórdia. Um
coração de Pai que não nos trata segundo os nossos pecados e não nos retribui
segundo as nossas culpas, como diz o Salmo (103, 9-10)”.
O
perdão, portanto, é um ato eminentemente ‘paterno’, tanto a nível humano quanto
divino. “Por isso ser confessor é uma responsabilidade tão grande, porque
aquele filho, aquela filha que vem a você procura somente encontrar um pai”
disse Francisco.
Para
concluir a catequese, o Pontífice se dirigiu a todos os sacerdotes, que estão
no confessionário: “você está ali no lugar do Pai que faz justiça com a sua
misericórdia”.
No
momento das saudações finais, o Santo Padre Francisco disse aos peregrinos de
língua portuguesa: “Saúdo cordialmente todos os peregrinos de língua
portuguesa. Queridos amigos, devemos deixar para trás o nosso pobre conceito de
justiça e abrir o nosso coração à infinita misericórdia de Deus, que nunca se
cansa de nos perdoar, para que possamos buscar a reconciliação com todos,
começando pelos nossos familiares.
Que Deus vos abençoe”.
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